Buenos Aires é uma cidade famosa por suas milongas. Esta palavra, “milonga”, além de denominar a música das duas margens do Rio da Prata (Argentina e Uruguai), é também o espaço onde as pessoas que gostam de tango se reúnem para dançar. É o baile! Não tem nada a ver com os espetáculos, que são igualmente belíssimos, mas são para ver ou ouvir. Há centenas delas na capital argentina, de todos os tipos que você possa imaginar– desde as realizadas em clubes tradicionais, com regras rígidas, até às milongas gays, onde os papéis de cada um são mais flexíveis. Há sites especializados com a agenda da semana, como o Punto Tango, com as 60 melhores pistas para dançar, de acordo com horário, dia da semana, público, e até tipo de piso.

[caption id="attachment_4839" align="alignnone" width="500"]Milonga em Buenos Aires Há centenas de milongas na capital Argentina, para todos os gostos. / source[/caption]

Uma coisa, no entanto, é comum entre todas – a magia. Ao ultrapassar suas portas, se descortina um mundo maravilhoso. Entra-se em outra realidade. Tanto é que não há uma milonga que tenha porta direto na rua. Sempre há uma recepção, um lobby, um corredor, uma cortina. É imprescindível fazer uma transição entre o mundo “real” e o mundo do baile. Normalmente, isso acontece com a troca dos sapatos. Retirar os sapatos “da rua” ao entrar num lugar sagrado contém um valor simbólico muito forte. De forma que todo o dançarino (a) que se preze tem seu sapato de baile. E não o usa em nenhum outro lugar. Aliás, em milongas mais tradicionais, quem não tem sapato especial não dança. Plancha! Em bom português, toma chá de cadeira.

[caption id="attachment_4840" align="alignnone" width="500"]Milonga en Buenos Aires O sapato é super importante no universo do tango! / source[/caption]

Mas há outros códigos milongueiros. E muitos. Normas que é bom conhecer, mesmo que você não dance. Abaixo, alguns deles:

1. "CABECEIO"

Nenhum homem atravessa a pista para convidar uma mulher para dançar. O convite é feito na base do olhar e, se há acordo, se fecha negócio com um leve balanço de cabeça. Parece antigo, mas acho bem civilizado. Evita que a gente tenha que dizer não para alguém ou dançar com quem não está afim. Se essa é a ideia, aliás é só fazer uma cara de distraída que todos entendem.

2. SILENCIO

Quando a gente aceita o convite para dançar, pode aproveitar os primeiros compassos servem para um conversa rápida, mas não deve esquecer algo importante: durante o baile não se fala - é preciso escutar a música.

3. SENTIDO DE PISTA

Os casais dançam em sentido anti-horário. De preferência, os iniciantes ficam no centro do salão e os mais experientes bailam nas bordas (área de maior exposição visual). Ninguém se ultrapassa. Não é uma corrida. Os casais vão ocupando o espaço deixado pelo da frente.

4. ESPAÇO

Como as pistas em geral são cheias, os movimentos devem ser módicos. Nada de fazer com seu salto agulha aquele passo que você viu no show de tango. A milonga é o lugar do tango social, ou seja, é preciso respeitar e não invadir o espaço do outro.

5. TANDAS

É de bom tom dançar uma “tanda” inteira – isto é, um grupo de três ou quatro tangos. Dancar só um e dizer “gracias” é falta de educação. Ao final desses tangos, os pares ficam liberados para descansar, conversar, ou simplesmente procurar outros parceiros. E depois começa tudo novamente.

[caption id="attachment_4841" align="alignnone" width="640"]Milonga a céu aberto Milonga a céu aberto / source[/caption]

Afinal, o melhor do tango é experimentar uma nova paixão a cada três minutos. Ou encontrar o abraço perfeito!

Autor: Gisele Teixeira Brasileira, jornalista formada pela Universidade Federal de Santa Maria e "cidadã do mundo" como se auto descreve. Autora do blog Aqui me Quedo, vive em Buenos Aires já a cinco anos e esta terminando seus estudos no Centro Educativo del Tango de Buenos Aires. Apaixonada pelo tango, Gisele é nossa blogueira convidada para contar quinzenalmente um pouco mais do tango, suas técnicas, regras e outros segredos!